A pulsão e suas vizinhanças
Kafka como teórico da organização social
Resumo
O presente texto procura propor uma leitura que caminha contra a descrição comum de Franz Kafka como o escritor que melhor captura a “absurdidade” da burocracia e do totalitarismo. Nossa hipótese começa com a investigação de que Kafka foi o grande pensador da “necessidade” enigmática cuja emergência transforma “meios em fins e fins em meios”. Assim como é usual em Karl Marx, não se trata de uma mera distinção entre registros, entre as apresentações abstratas e concretas de algo dado, sendo que, a própria ideia de comunismo pode de fato trabalhar contra o real movimento comunista justamente pelo ponto de vista de uma ideia sem realidade efetiva – o movimento comunista atual, no entanto, não supera as relações atuais mediadas pela propriedade privada como em sua versão ideal. Nesse sentido, queremos defender a proposta ao menos legítima de ler Kafka nesse contexto, como um pensador das instituições organizadas em torno tanto dessa necessidade indesejada quanto da indeterminação social que ela traz; ou, em outros termos, em vez de usar a psicanálise para entender o trabalho de Kafka, consideramos o autor mesmo um psicanalista capaz de reconhecer a estrutura da pulsão no nível do “inconsciente institucional”.